A cozinha das nossas avós será o local
perfeito para voarmos mais alto e saltarmos para trás no tempo, fazendo-nos sentir
novamente crianças, numa altura em que a televisão era ainda a preto e branco,
quando existia, ou dos candeeiros a petróleo, em que na rua, só as estrelas é
que iluminavam a madrugada já esguia e escura.
As panelas em ferro transformavam os
próprios cozinhados num autêntico banquete dos deuses, para o qual também o fogão
a lenha ajudava a crepitar o verdadeiro sabor dos alimentos.
Estes, por sua vez, tinham sido até
apanhados momentos antes de serem cuidadosamente preparados para um saudoso
prato de bacalhau, por exemplo, depois de uma calorosa canja de galinha, sei
lá, cuja galinha também fora atenciosamente criada ao ar livre, esgravatando o
chão térreo, pelo meio das árvores de fruto ou de outros animais domésticos criados
à solta.
A própria meteorologia era mais acertada e as quatro estações eram bem mais demarcadas, não dando origem a tanto desperdício de frutas ou legumes criados nos campos.
E até as florestas eram mais vigiadas por quem passava a pé dezenas de quilómetros, ainda de noite, para dar de comer ao seu rebanho de ovelhas ou cabras.
Mais tarde iria com certeza aparecer alguém com o respetivo farnel de almoço, para depois ir buscar água à fonte ou lavar roupa no rio, tal como a minha mãe conta, em que tantas vezes preenchia as horas com verdadeiras cantigas em grupo para espantar os maus espíritos!
Quanto aos bolos e sobremesas, faziam lembrar os respeitosos doces conventuais, como o pão de ló ou o arroz doce, conotando-se de um magnífico registo de família ao longo de várias gerações, bem como o modo caseiro de fazer vinho, pão ou azeite, em que no Salmo 104 inscrito na Bíblia, mais precisamente nos versículos 14 e 15, está escrito:
“É o Senhor que faz crescer o pasto para o gado, e as plantas que o homem cultiva, para da terra tirar o alimento: o vinho, que alegra o coração do homem; o azeite, que lhe faz brilhar o rosto, e o pão, que sustenta o seu vigor.”
É certo que os nossos antepassados viviam pior, descalços e com frio, fome e pouco dinheiro, tendo de trabalhar arduamente, tal como o meu pai contara já tantas vezes.
E, realmente, a Igreja era um assunto bastante presente no dia-a-dia, como que uma questão de segurança e paz interior, existindo por todas as casas das aldeias diversos objetos sagrados expostos, incluindo-se muitas vezes até um pequeno altar, onde se davam as respetivas graças e louvores à família de Deus e aos anjos dos Céus.
Por isso mesmo, eu acho que os avós são os nossos verdadeiros heróis e testemunhos vivos dos valores fundamentais de toda uma vida, tendo uma tarefa educativa bastante importante a desempenhar no seio de uma família.
E a hora da refeição era sagrada, em que não se saía da mesa sem antes pedir-se a devida licença!
Quanto a outros tipos de utensílios de
cozinha porventura utilizados, temos que o material a que se recorria, como no
caso dos talheres, era o latão, ou até mesmo o aço inox, porém não totalmente
resistente à corrosão; todavia, de acordo com os devidos recursos, também podiam
ser de prata ou banhados a ouro. Já agora, diversos potes, castiçais,
fruteiras, taças, etc, podiam ser de bronze.
As toalhas de mesa eram normalmente de
linho, com rendas de crochet ou bordadas à mão, sendo que os guardanapos,
bem como até alguns panos de tabuleiro, nalguns casos eram devidamente identificados
com a inicial do respetivo usuário.
Não esqueçam que, antigamente, era
costume, sobretudo nos meios rurais portugueses, as meninas serem ensinadas, desde
cedo, a criar um certo enxoval, cujo objetivo era ser acompanhado por um dote, este
por sua vez constituído, quando possível, por dinheiro para ajudar o futuro
casamento. Aliás, eu tenho guardado comigo, um certo conjunto de enxoval, que a
minha mãe me ajudara a fazer, até uma certa altura em criança, guardando-o por
isso com muito amor e recordação, dentro de uma mala ou arca de madeira.
Professora, dona de casa, blogueira, apaixonada pela cozinha, ansiosa por conhecer novos caminhos
e que acredita no amor pela vida e pelos outros.
Aqui na aldeia há peças e recantos com histórias semelhantes! Bj e gostei de ler!
ResponderEliminarOlá! Obrigada pelo teu comentário, pois eu sou da opinião de que devemos preservar mais e melhor o que é bom e nosso!
EliminarOutro bj,
Mónica Rebelo do blog Cozinha Com Rosto.
Adorei!! Em casa da minha avó é igual :)
ResponderEliminarOlá! Obrigada pela apreciação, considerando eu que a nossa avó é a nossa «segunda» mãe!
EliminarMónica Rebelo do blog Cozinha Com Rosto.