Em cada estação do ano, a vetusta Sociedade Portuguesa de
Naturalogia, considerada uma das mais antigas associações ambientais existentes
no nosso País, organiza um almoço de convívio para os seus sócios e amigos. Na
elaboração das ementas vegetarianas, a SPN procura inovar e introduzir novidades
gastronómicas para atrair os comensais e divulgar bons princípios da
alimentação saudável. A bebida que acompanha as refeições é geralmente o suco
de cenoura que os participantes sedentos, sobretudo no almoço de verão, esgotam
num ápice. Para obviar aos inconvenientes, alguém teve a peregrina ideia de
servir antes do sumo da cenoura, água aromatizada com folhas de
hortelã-pimenta. A iniciativa foi excelente e resultou com agrado geral. Assim
nasceu mais uma útil aplicação para esta versátil erva aromática.
A Menta x piperita é uma Lamiácea híbrida que resulta do
cruzamento entre a Menta aquatica
(hortelã-mourisca) e a Menta spicata
(hortelã-vulgar). Todavia, para complicar, alguns botânicos referem que a
hibridação é tripla, juntando-lhe também a Menta
suaveolens, conhecida popularmente como mentrasto ou hortelã-de-burro. De
resto, sublinhe-se que existem inúmeros cruzamentos entre as diferentes mentas,
o que dificulta a sua rigorosa identificação. O sinal de multiplicação “X” foi
a regra escolhida pelos cientistas da nomenclatura botânica para indicar que a planta
é híbrida e que, consequentemente, a sua reprodução não se efetua por semente
mas sim por via vegetativa (rebentos subterrâneos).
O que interessa verdadeiramente é que todas as subespécies de
hortelã-pimenta, das cerca de três dezenas que se encontram caracterizadas, têm
sensivelmente as mesmas propriedades aromáticas, medicinais, condimentares e
ornamentais.
Trata-se de uma herbácea perene com raízes subterrâneas
ramificadas. As folhas são opostas, peninérveas, lanceoladas ou ovadas,
pecioladas e ligeiramente dentadas. Os caules, de cor arroxeada, apresentam-se
canelados e podem atingir 60 cm de altura, culminando em flores violetas
agrupadas em espiga. Os frutos (tetraquénios), com sementes estéreis, raramente
aparecem.
A maior parte dos livros de fitoterapia mencionam a
hortelã-pimenta. Veja-se, por exemplo, o que diz o antigo Manual de Medicina
Doméstica do Dr. Samuel Maia que a designa de Mentha officinalis: “dela se extrai o mentol, de largo uso e muito
apreciado como antisséptico do nariz, faringe, laringe, etc.. Internamente
usa-se como aperitivo. Aproveitam-se as sumidades floridas com as folhas
próximas que se cortam de agosto a setembro e a seguir se secam em tabuleiros
de asseio rigoroso”. Eis o infuso recomendado: “10 g de sumidades secas num
litro de água fervente. Infusa meia hora. Serve para gargarejos, inalações,
lavagens das fossas nasais, corisas, rinites, faringites, rouquidão, ozena,
sinusites”.
Como propriedades medicinais são apontadas as seguintes:
digestiva, carminativa, colerética, antissética, afrodisíaca, tonificante,
analgésica, excitante, colagoga, estomáquica, vasodilatadora, descongestionadora
nasal, etc.
Com tantas propriedades não admira a sua recomendação para
múltiplos transtornos: falta de apetite, aerofagias, diarreias, cãibras,
cefaleias, catarros, infeções bocais, herpes, cólon irritável, refluxo gastro
esofágico, gastrite, vómitos, doença de crohn, pé-de-atleta, …
Há imensas preparações fitoterapêuticas. Citemos apenas
algumas:
- Infuso da planta fresca (30 g num litro de água – bebida tónica
e refrescante).
- Licor (macerar durante 2 semanas 30 g das folhas num litro
de álcool a 60º, coar, dissolver 250 g de açúcar de preferência mascavado).
- Pedilúvio (banho de pés em infusão da planta – muito
aconselhável para quem sofre de pé-de-atleta).
- “Chá” (deitar duas colherinhas da planta seca numa chávena
de água a ferver e deixar macerar durante 10 minutos).
- Álcool mentolado (dissolver a essência em álcool para
fricções – para aliviar nevralgias, dores musculares e reumáticas).
- Mastigação de folhas frescas para eliminar a halitose.
- Compressas a fim de aliviar as dores de cabeça e as
cãibras.
Miguel Boieiro
Professora, dona de casa, blogueira, apaixonada pela cozinha, ansiosa por conhecer novos caminhos
e que acredita no amor pela vida e pelos outros.
Muito bom,interessante e inspirador...tambem nós caminhamos na procura de outras e novas realidades. Um abracinho!
ResponderEliminarMuito bom, interessante e inspirador... também nós caminhamos na procura de outras e novas realidades. Um abracinho!
ResponderEliminarMuito obrigada pelo seu comentário, que também me inspirará a escrever novos textos!
EliminarE volte sempre, sendo também um dos meus objetivos inspirar pessoas,
porque... nós somos o que comemos!
Tudo de bom e felicidades,
Mónica Rebelo do blog Cozinha Com Rosto.