sexta-feira, 18 de maio de 2018

PLANTAS PARA COLHER E DEGUSTAR: texto 7 - Hortelã-pimenta (by Miguel Boieiro)



Em cada estação do ano, a vetusta Sociedade Portuguesa de Naturalogia, considerada uma das mais antigas associações ambientais existentes no nosso País, organiza um almoço de convívio para os seus sócios e amigos. Na elaboração das ementas vegetarianas, a SPN procura inovar e introduzir novidades gastronómicas para atrair os comensais e divulgar bons princípios da alimentação saudável. A bebida que acompanha as refeições é geralmente o suco de cenoura que os participantes sedentos, sobretudo no almoço de verão, esgotam num ápice. Para obviar aos inconvenientes, alguém teve a peregrina ideia de servir antes do sumo da cenoura, água aromatizada com folhas de hortelã-pimenta. A iniciativa foi excelente e resultou com agrado geral. Assim nasceu mais uma útil aplicação para esta versátil erva aromática.

A Menta x piperita é uma Lamiácea híbrida que resulta do cruzamento entre a Menta aquatica (hortelã-mourisca) e a Menta spicata (hortelã-vulgar). Todavia, para complicar, alguns botânicos referem que a hibridação é tripla, juntando-lhe também a Menta suaveolens, conhecida popularmente como mentrasto ou hortelã-de-burro. De resto, sublinhe-se que existem inúmeros cruzamentos entre as diferentes mentas, o que dificulta a sua rigorosa identificação. O sinal de multiplicação “X” foi a regra escolhida pelos cientistas da nomenclatura botânica para indicar que a planta é híbrida e que, consequentemente, a sua reprodução não se efetua por semente mas sim por via vegetativa (rebentos subterrâneos).




O que interessa verdadeiramente é que todas as subespécies de hortelã-pimenta, das cerca de três dezenas que se encontram caracterizadas, têm sensivelmente as mesmas propriedades aromáticas, medicinais, condimentares e ornamentais.

Trata-se de uma herbácea perene com raízes subterrâneas ramificadas. As folhas são opostas, peninérveas, lanceoladas ou ovadas, pecioladas e ligeiramente dentadas. Os caules, de cor arroxeada, apresentam-se canelados e podem atingir 60 cm de altura, culminando em flores violetas agrupadas em espiga. Os frutos (tetraquénios), com sementes estéreis, raramente aparecem.

A maior parte dos livros de fitoterapia mencionam a hortelã-pimenta. Veja-se, por exemplo, o que diz o antigo Manual de Medicina Doméstica do Dr. Samuel Maia que a designa de Mentha officinalis: “dela se extrai o mentol, de largo uso e muito apreciado como antisséptico do nariz, faringe, laringe, etc.. Internamente usa-se como aperitivo. Aproveitam-se as sumidades floridas com as folhas próximas que se cortam de agosto a setembro e a seguir se secam em tabuleiros de asseio rigoroso”. Eis o infuso recomendado: “10 g de sumidades secas num litro de água fervente. Infusa meia hora. Serve para gargarejos, inalações, lavagens das fossas nasais, corisas, rinites, faringites, rouquidão, ozena, sinusites”.

Análises químicas revelam que a hortelã-pimenta possui taninos, flavonóides, algumas substâncias amargas e sobretudo muitos óleos essências em que se sobrepõe o mentol.




Como propriedades medicinais são apontadas as seguintes: digestiva, carminativa, colerética, antissética, afrodisíaca, tonificante, analgésica, excitante, colagoga, estomáquica, vasodilatadora, descongestionadora nasal, etc.

Com tantas propriedades não admira a sua recomendação para múltiplos transtornos: falta de apetite, aerofagias, diarreias, cãibras, cefaleias, catarros, infeções bocais, herpes, cólon irritável, refluxo gastro esofágico, gastrite, vómitos, doença de crohn, pé-de-atleta, …

Pessoalmente, prefiro utilizar as folhas e as sumidades da planta fresca porque tenho a possibilidades de as colher nos sítios e épocas certas. Para quem não dispõe dessa possibilidade aconselha-se especiais cuidados: colher as folhas que não tenham ferrugem e submetê-las a uma corrente de ar quente e seco que não exceda a temperatura de 25 graus, guardando-as, depois de secas, em frascos escuros ao abrigo do ar e da luz.




Há imensas preparações fitoterapêuticas. Citemos apenas algumas:

- Infuso da planta fresca (30 g num litro de água – bebida tónica e refrescante).
- Licor (macerar durante 2 semanas 30 g das folhas num litro de álcool a 60º, coar, dissolver 250 g de açúcar de preferência mascavado).
- Pedilúvio (banho de pés em infusão da planta – muito aconselhável para quem sofre de pé-de-atleta).
- “Chá” (deitar duas colherinhas da planta seca numa chávena de água a ferver e deixar macerar durante 10 minutos).
- Álcool mentolado (dissolver a essência em álcool para fricções – para aliviar nevralgias, dores musculares e reumáticas).
- Mastigação de folhas frescas para eliminar a halitose.
- Compressas a fim de aliviar as dores de cabeça e as cãibras.

Para terminar, refira-se ainda que a hortelã-pimenta é também utilizada no fabrico de detergentes, cosméticos e pastas dentífricas.



Miguel Boieiro





Blogue Cozinha Com Rosto

                      


Professora, dona de casa, blogueira, apaixonada pela cozinha, ansiosa por conhecer novos caminhos 
e que acredita no amor pela vida e pelos outros.




3 comentários:

  1. Muito bom,interessante e inspirador...tambem nós caminhamos na procura de outras e novas realidades. Um abracinho!

    ResponderEliminar
  2. Muito bom, interessante e inspirador... também nós caminhamos na procura de outras e novas realidades. Um abracinho!

    ResponderEliminar
    Respostas
    1. Muito obrigada pelo seu comentário, que também me inspirará a escrever novos textos!

      E volte sempre, sendo também um dos meus objetivos inspirar pessoas,
      porque... nós somos o que comemos!

      Tudo de bom e felicidades,

      Mónica Rebelo do blog Cozinha Com Rosto.

      Eliminar