Para este escriba curioso da botânica, o que mais surpreendeu na visita efectuada à “Biofach”, maior feira mundial de produtos biológicos, que se realiza todos os anos em Nuremberga, foi a intensa divulgação e a grande variedade de alimentos que integravam a stevia, como elemento substituto do açúcar. Prevejo que, muito em breve, tenhamos em Portugal a promoção da stevia que é ainda, entre nós, pouco conhecida.
Ora a stevia é uma erva plurianual, ou, vá lá, um arbusto que
eu já conhecia desde o simpático convite do meu amigo Dr. Gonçalves Pereira
para visitar a sua quinta de raridades botânicas, lá para os lados da Anadia.
Trata-se de uma planta tropical, oriunda da zona do Paraguai, que pertence à
família das Compostas ou Asteráceas e que engloba cerca de 40
espécies.
A que nos interessa denomina-se Stevia rebaudiana Bertoni. O botânico suíço Moisés Bertoni foi quem
primeiro descreveu esta planta que pode medir 80 cm de altura e possui pequenas
flores esbranquiçadas e raiz perene e fibrosa, proporcionando múltiplos
rebentos. Acrescenta o Dr. Gonçalves Pereira um facto curioso: a folhagem,
quando caída no solo, dificilmente se biodegrada ou é destruída por insetos.
Parece que os índios guaranis já utilizam a Stevia rebaudiana há séculos, como
adoçante do “chá” de erva-mate e remédio eficaz para várias enfermidades.
A análise química das suas folhas apresenta dois compostos de
sabor adocicado: o esteviosídeo
e o rebaudiosídeo A que são
200 a 300 vezes mais doces do que a própria sacarose proveniente da cana do açúcar.
Aliás, em relação ao açúcar apresenta apreciáveis vantagens porque não altera o
nível da glicose no sangue, não contém calorias e é absolutamente natural, ou
seja, é isenta de ingredientes artificiais.
Há todavia um “inconveniente” de peso porque a planta cresce
espontaneamente e não pode ser patenteada. Logo, coloca em perigo a
rendibilidade das agressivas multinacionais de edulcorantes que tudo fazem,
muitas vezes sem qualquer escrúpulo, para obter chorudos lucros. Tem havido uma
autêntica guerra à stevia movida pelos fabricantes de aspartame (um autêntico
veneno) e de outros adoçantes químicos preparados para diabéticos.
Nos Estados Unidos da América e na União Europeia baniu-se
inicialmente a venda de produtos com stevia e mais tarde lá se admitiu a
comercialização, mas com fortes restrições. Entretanto, a China tornou-se o
principal produtor mundial, enquanto o Japão que já fabrica e utiliza extratos
de stevia há trinta anos, é hoje o seu maior consumidor, onde o produto
representa cerca de 40% do respetivo mercado de adoçantes.
Efectuadas várias análises químicas e estudos, eles
confirmaram as vantagens da stevia, cujo emprego corrente chegou a ser proibido
nos EUA por pressão do poderoso “lobby” industrial de adoçantes artificiais,
como antes se aludiu.
Para além dos glicosídeos já mencionados (estiviosídeo e
rebaudiosídeo), detetaram-se outros princípios ativos importantes, saponinas,
taninos e óleo essencial, formando um todo harmónico não fermentável e com pH
estabilizado.
Estão comprovadas as propriedades medicinais desta planta
singular, como a de exercer efeitos calmantes sobre o sistema nervoso, eliminar
a azia, reduzir a fadiga, a depressão e as insónias e controlar a hipertensão
arterial. Verifica-se ainda que estimula as funções digestivas e cerebrais, faz
baixar os níveis de ácido úrico e favorece a eliminação de toxinas.
É particularmente útil no caso da diabetes, dado que
substitui o açúcar, não deixando qualquer sabor residual e permitindo a redução
da quantidade de insulina ministrada diariamente aos doentes.
Apesar da poderosa movimentação contra a stevia, usando
vários argumentos como, por exemplo, a de possuir ação anticoncecional, diversas
empresas de suplementos alimentares já comercializam quer o esteviosídeo, quer
o rebaudiosídeo, componentes adoçantes extraídos naturalmente das respectivas
folhas, cuja apresentação é de um simples pó branco.
Na casa particular onde fiquei alojado, em Nuremberga, ao
abrigo do sistema esperantista “Pasaporta Servo”, tive oportunidade de
verificar o uso corrente dessas substâncias na dieta alimentar dos residentes.
Miguel Boieiro
Professora, dona de casa, blogueira, apaixonada pela cozinha, ansiosa por conhecer novos caminhos
e que acredita no amor pela vida e pelos outros.
Sem comentários:
Enviar um comentário